(ENEM PPL - 2016) Um menino aprende a ler Minha me sentava-se a coser e retinha-me de livro na mo, ao lado dela, ao p da mquina de costura. O livro tinha numa pgina a figura de um bicho carcunda ao lado da qual, em letras gradas, destacava-se esta palavra: ESTMAGO. Depois de soletrar es-to-ma-go, pronunciei estomgo. Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo e dromedrio. Mas estmago, pronunciei estomgo. Minha me, bonita como s pode ser me jovem para filho pequeno, o rosto alvssimo, os cabelos enrolados no pescoo, parou a costura e me fitou de fazer medo: Gilberto!. Estremeci. Estomgo? Leia de novo, soletre. Soletrei, repeti: Estomgo. Foi o diabo. Jamais tinha ouvido, ao que me lembrasse ento, a palavra estmago. A cozinheira, o estribeira, os criados, Bernarda, diziam estambo. Estou com uma dor na boca do estambo..., Meu estambo est tinindo.... Meus pais teriam pronunciado direito na minha presena, mas eu no me lembrava. E criana, como o povo, sempre que pode repele proparoxtono. AMADO, G. Histria da minha infncia. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1958. No trecho, em que o narrador relembra um episdio de sua infncia, revela-se a possibilidade de a lngua se realizar de formas diferentes. Com base no texto, a passagem em que se constata uma marca de variedade lingustica pouco prestigiada :
(ENEMPPL - 2016) Naquele tempo eu morava no Calango-Frito e no acreditava em feiticeiros. E o contrassenso mais avultava, porque, j ento, e excluda quanta coisa-e-sousa de ns todos l, e outras cismas corriqueiras tais: sal derramado; padre viajando com a gente no trem; no falar em raio: quando muito, e se o tempo est bom, fasca; nem dizer lepra; s o mal; passo de entrada com o p esquerdo; ave do pescoo pelado; risada renga de suindara; cachorro, bode e galo, pretos; [...] porque, j ento, como ia dizendo, eu poderia confessar, num recenseio aproximado: doze tabus de no uso prprio; oito regrinhas ortodoxas preventivas; vinte pssimos pressgios; dezesseis casos de batida obrigatria na madeira; dez outros exigindo a figa digital napolitana, mas da legtima, ocultando bem a cabea do polegar; e cinco ou seis indicaes de ritual mais complicado; total: setenta e dois noves fora, nada. ROSA, J. G. So Marcos. Sagarana. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1967 (adaptado). Joo Guimares Rosa, nesse fragmento de conto, resgata a cultura popular ao registrar
(ENEM PPL - 2016) Escrever A estudante perguntou como era essa coisa de escrever. Eu fiz o gnero fofo. Moleza, disse. Primeiro evite esses coloquialismos de fofo e moleza, passe longe das grias ainda no dicionarizadas e de tudo mais que soe mais falado do que escrito. Isto aqui no rdio FM. De vez em quando, aplique uma gria como se fosse um piparote de leve no cangote do texto, mas, em geral, evite. Fuja dessas rimas bobinhas, desses motes sonoros. O leitor pode se achar diante de um rapper frustrado e dar cambalhotas. Mas, ateno, se soar muito estranho, reescreva. Quando quiser aplicar um mas, tome flego, ligue para o 0800 do Instituto Fernando Pessoa, pea autorizao ao sbio de planto, e, por favor, volte atrs. um cacoete facilitador. Dele deve ter vindo a expresso cheio de mas-mas, ou seja, uma pessoa cheia de no bem assim, uma chata que usa o truque para afirmar e depois, como se fosse estilo, obtemperar. SANTOS, J. F. O Globo, 10 jan. 2011 (adaptado). A lngua varia em funo de diferentes fatores. Um deles a situao em que se d a comunicao. Na crnica, ao ser interrogado sobre a arte de escrever, o autor utiliza, em meio linguagem escrita padro, condizente com o contexto,
(ENEM PPL - 2016) O passado na tela do computador Um dos desafios do novo Museu da Imigrao se contrapor imagem deixada pela exibio do acervo permanente na poca do Memorial do Imigrante, muito criticada por dar nfase demasiada aos imigrantes estrangeiros e pouca ateno aos brasileiros. Era uma representao desproporcional em relao aos nmeros: dos 3,5 milhes de pessoas que passaram pela hospedaria de imigrantes de So Paulo, aproximadamente 1,9 milho eram estrangeiras (de 75 nacionalidades e etnias) e 1,6 milho eram brasileiras, oriundas, principalmente, dos estados nordestinos. HEBMLLER, P. Problemas brasileiros, n. 414, nov.-dez. 2012 (adaptado). O autor do texto sobre a digitalizao do acervo do novo Museu da Imigrao apresenta a nfase no imigrante estrangeiro como um problema de representao equivocada da imigrao em So Paulo. Para tanto, fundamenta seu ponto de vista no(a)
(ENEM PPL -2016) Argumento T legal Eu aceito o argumento Mas no me altere o samba tanto assim Olha que a rapaziada est sentindo a falta De um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim Sem preconceito Ou mania de passado Sem querer ficar do lado De quem no quer navegar Faa como o velho marinheiro Que durante o nevoeiro Leva o barco devagar. PAULINHO DA VIOLA. Disponvel em: www.paulinhodaviola.com.br. Acesso em: 6 dez. 2012. Na letra da cano, percebe-se uma interlocuo. A posio do emissor conciliatria entre as tradies do samba e os movimentos inovadores desse ritmo. A estratgia argumentativa de concesso, nesse cenrio, marcada no trecho
(ENEM PPL - 2015) Da timidez Ser um tmido notrio uma contradio. O tmido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notrio. Se ficou notrio por ser tmido, ento tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez essa, que atrai tanta ateno? Se ficou notrio apesar de ser tmido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. To secreto que nem ele sabe. como no paradoxo psicanaltico, s algum que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque s ele acha que se sentir inferior doena. [...] O tmido tenta se convencer de que s tem problemas com multides, mas isto no vantagem. Para o tmido, duas pessoas so uma multido. Quando no consegue escapar e se v diante de uma plateia, o tmido no pensa nos membros da plateia como indivduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. No adianta pedir para a plateia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tmido pela metade. Nada adianta. O tmido, em suma, uma pessoa convencida de que o centro do Universo, e que seu vexame ainda ser lembrado quando as estrelas virarem p. VERISSIMO, L. F. Comdias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Entre as estratgias de progresso textual presentes nesse trecho, identifica-se o emprego de elementos conectores. Os elementos que evidenciam noes semelhantes esto destacados em:
(ENEM PPL - 2015) A obra do artista plstico Leonilson (1953-1993) marca presena no panorama da arte brasileira e internacional. Nessa obra, ele utilizou a habilidade tcnica do bordado manual para
(ENEM PPL - 2015) E: Diva ... tem algumas ... alguma experincia pessoal que voc passou e que voc poderia me contar ...alguma coisa que marcou voc? Uma experincia ... voc poderia contar agora ... I: ... tem uma que eu vivi quando eu estudava o terceiro ano cientfico l no Atheneu ... n ... :: eu gostavamuito do laboratrio de qumica ... eu ... eu ia ajudar os professores a limpar aquele material todo ... aqueles vidros ... eu achava aquilo fantstico ... aquele monte de coisa ... n ... ento ... todos os dias eu ia ... quando terminavam as aulas eu ajudava o professor a limpar o laboratrio ... nesse dia no houve aula e o professor me chamou pra fazer uma limpeza geral no laboratrio ... chegando l ... ele me fez uma experincia ... ele me mostrou uma coisa bem interessante que ... pegou um bquer com meio dgua e colocou um pouquinho de cloreto de sdio pastoso ... ento foi aquele fogaru desfilando ... aquele fogaru... quando o professor saiu ... eu chamei umas duas colegas minhas pra mostrar a experincia que eu tinha achado fantstico ... s que ... eu achei o seguinte ... se o professor colocou um pouquinho ... foi aquele desfile ... imagine se eu colocasse mais ... peguei o mesmo bquer ... coloquei uma colher ... uma colher de cloreto de sdio ... foi um fogaru to grande ... foi uma exploso ... quebrou todo o material que estava exposto em cima da mesa ... eu branca ... eu fiquei ... olha ...eu pensei que eu fosse morrer sabe ... quando ... o colgio inteiro correu pro laboratrio pra ver o que tinha sido ... CUNHA, M. A. F. (Org.) . Corpus discurso gramtica: a lngua falada e escrita na cidade de Natal. Natal: EdUFRN, 1998. Na transcrio de fala, especialmente, no trecho eu branca ... eu fiquei ... olha ...eu pensei que eu fosse morrer sabe ..., h uma estrutura sinttica fragmentada, embora facilmente interpretvel. Sua presena na fala revela
(ENEM PPL - 2015) O mundo das grandes inovaes tecnolgicas, dos avanos das pesquisas mdicas e que j presenciou o envio de homens ao espao o mesmo lugar onde 1 bilho de pessoas dormem e acordam com fome. A desnutrio ocupa o primeiro lugar no ranking dos 10 maiores riscos sade e mata mais do que a aids, a malria e a tuberculose combinadas. O equivalente s populaes da Europa e da Amrica do Norte, juntas, est de barriga vazia. E um futuro famlico aguarda a raa humana. Em 2050, apenas por razes ligadas s mudanas climticas, o nmero de pessoas sem comida no prato vai aumentar em at 20%. Disponvel em: www.correiobraziliense.com.br. Acesso em: 22 jan. 2012. Considerando a natureza do tema, a forma como est apresentado e o meio pelo qual veiculado o texto, percebe-se que seu principal objetivo
(ENEM PPL - 2015) TEXTO I Voluntrio Rosa tecia redes, e os produtos de sua pequena indstria gozavam de boa fama nos arredores. A reputao da tapuia crescera com a feitura de uma maqueira de tucum ornamentada com a coroa brasileira, obra de ingnuo gosto, que lhe valera a admirao de toda a comarca e provocara a inveja da clebre Ana Raimunda, de bidos, a qual chegara a formar uma fortunazinha com aquela especialidade, quando a indstria norte-americana reduzira inatividade os teares rotineiros do Amazonas. SOUSA, I. Contos amaznicos. So Paulo: Martins Fontes, 2004. TEXTO II Relato de um certo oriente Emilie, ao contrrio de meu pai, de Dorner e dos nossos vizinhos, no tinha vivido no interior do Amazonas. Ela, como eu, jamais atravessara o rio. Manaus era o seu mundo visvel. O outro latejava na sua memria. Imantada por uma voz melodiosa, quase encantada, Emilie maravilha-se com a descrio da trepadeira que espanta a inveja, das folhas malhadas de um taj que reproduz a fortuna de um homem, das receitas de curandeiros que veem em certas ervas da floresta o enima dasdoenas mais temveis, com as infuses de colorao sangunea aconselhadas para aliviar trinta e seis dores do corpo humano. E existem ervas que no curam nada,revelava a lavadeira, mas assanham a mente da gente. Basta tomar um gole do lquido fervendo para que o cristo sonhe uma nica noite muitas vidas diferentes.Esse relato poderia ser de duvidosa veracidade para outras pessoas, mas no para Emilie. HATOUM, M. So Paulo: Cia. das Letras, 2008. As representaes da Amaznia na literatura brasileira mantm relao com o papel atribudo regio na construo do imaginrio nacional. Pertencentes a contextos histricos distintos, os fragmentos diferenciam-se ao propor uma representao da realidade amaznica em que se evidenciam
(ENEM PPL - 2015) A palavra inglesa involution traduz-se como involuoou regresso. A construo da imagem com base na combinao do verbal com o no verbal revela a inteno de
(ENEM PPL - 2015) O peru de Natal O nosso primeiro Natal de famlia, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de consequncias decisivas para a felicidade familiar. Ns sempre framos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econmicas. Mas, devido principalmente natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no medocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estao de guas, aquisio de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramtico, o puro-sangue dos desmancha-prazeres. ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros do sculo. So Paulo: Objetiva, 2000 (fragmento). No fragmento do conto de Mrio de Andrade, o tom confessional do narrador em primeira pessoa revela uma concepo das relaes humanas marcada por
(ENEM PPL - 2015) No, me. Perde a graa. Este ano, a senhora vai ver. Compro um barato. Barato? Admito que voc compre uma lembrancinha barata, mas no diga isso a sua me. fazer pouco-caso de mim. Ih, me, a senhora est por fora mil anos. No sabe que barato o melhor que tem, um barato! Deixe eu escolher, deixe... Me ruim de escolha. Olha aquele blazer furado que a senhora me deu no Natal! Seu porcaria, tem coragem de dizer que sua me lhe deu um blazer furado? Viu? No sabe nem o que furado? Aquela cor j era, me, j era! ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. O modo como o filho qualifica os presentes incompreendido pela me, e essas escolhas lexicais revelam diferenas entre os interlocutores, que esto relacionadas
(ENEM PPL - 2015) TEXTO I Versos de amor A um poeta ertico Oposto ideal ao meu ideal conservas. Diverso , pois, o ponto outro de vista Consoante o qual, observo o amor, do egosta Modo de ver, consoante o qual, o observas. Porque o amor, tal como eu o estou amando, Esprito, ter, substncia fluida, assim como o ar que a gente pega e cuida, Cuida, entretanto, no o estar pegando! a transubstanciao de instintos rudes, Imponderabilssima, e impalpvel, Que anda acima da carne miservel Como anda a gara acima dos audes! ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996 (fragmento). TEXTO II Arte de amar Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma que estraga o amor. S em Deus ela pode encontrar satisfao. No noutra alma. S em Deus ou fora do mundo. As almas so incomunicveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas no. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. Os Textos I e II apresentam diferentes pontos de vista sobre o tema amor. Apesar disso, ambos definem essesentimento a partir da oposio entre
(ENEM PPL - 2015) Disponvel em: www.revistaepoca.globo.com. Acesso em: 27 fev. 2012. Ao interagirmos socialmente, comum deixarmos claro nosso posicionamento a respeito do assunto discutido. Para isso, muitas vezes, recorremos a determinadas estratgias argumentativas, dentre as quais se encontra o argumento de autoridade. Considerando o texto em suas cinco partes, constata-se que h o emprego de argumento de autoridade no trecho: